11 Maio 2021

Entrevista a Dr. Ivan Munoz, Especialista em Medicina Geral e Familiar no Hospital CUF Descobertas

O consumo excessivo de sal em Portugal é reconhecido como um problema de saúde pública. Ivan Munoz, especialista em medicina geral e familiar no Hospital CUF Descobertas, alerta para o facto de os impactos desta ingestão desmedida nem sempre serem imediatos. Segundo o clínico, o efeito é “nocivo, silencioso e acumulativo”, afectando o funcionamento de diversos órgãos, como o coração e os rins.

Quando é que o sal deixa de ser um aliado e passa a ser o inimigo da saúde?


O sal (ou, mais precisamente, o sódio) encontra-se de forma natural na grande maioria dos alimentos e é um composto fundamental para o bom funcionamento do nosso corpo, sendo essencial para a regulação do equilíbrio hidroelectrolítico (equilíbrio na distribuição de electrólitos/minerais no nosso corpo/órgãos/células). No entanto, quando ingerido em excesso, o sal é prejudicial e pode ser a causa de várias doenças.

Quais as doenças que estão associadas ao excesso de sal?


O excesso de sal faz aumentar a pressão arterial e o volume sanguíneo, pelo que pode ser a causa de hipertensão arterial (HTA) que, por sua vez, pode dar origem a vários problemas de saúde como: doença coronariana; acidente vascular cerebral; insuficiência cardíaca e doença renal. Além disso, a ingestão excessiva de sódio parece aumentar o risco de cancro gástrico, cálculos renais (pedras nos rins) e osteoporose.

Qual é o máximo de sal que se deveria ingerir por dia, sem comprometer a saúde?


A quantidade diária de sal não deve ser superior 5g por dia.

Qual é o impacto que o sal tem no corpo? E quanto tempo em média demora a fazer-se sentir?


Devido aos mecanismos de auto-regulação do nosso corpo, o impacto que a ingestão excessiva de sal tem no nosso organismo não é imediato. É um efeito nocivo, silencioso e acumulativo que vai deteriorando o funcionamento de diversos órgãos, como o coração e os rins. Muitas vezes, o efeito nocivo do sal só é detectado na consulta médica, quando já existe uma doença de órgão irreversível.

Considera que as gerações mais novas estão mais despertas para inverter este problema do consumo excessivo de sal?
Sim. Nas consultas de medicina geral e familiar, podemos constatar uma preocupação e um interesse cada vez maior nos temas relacionados com a saúde e o bem-estar.

Faltam iniciativas nacionais para a educação alimentar?
Têm sido realizadas algumas campanhas, mas são limitadas no tempo, o que provavelmente limita a sua eficácia a longo prazo.